sábado, 5 de abril de 2008

Os Homens do Terror


Naturalmente, o convencimento da sua própria superioridade não é uma especificidade da mentalidade árabe; no que a isto diz respeito, os europeus e os norte-americanos não ficam nada atrás de outras culturas. O que, no entanto, lhes confere uma energia particular reside em dois factores. O primeiro é que a crença na própria supremacia tem um fundamento religioso. O segundo é que ela colide com as próprias fraquezas óbvias. Isto leva a uma humilhação narcísica, que exige compensação. Atribuições de culpa, teorias de conspiração e projecções de toda a espécie fazem, desta maneira, parte da economia emocional colectiva. Consequentemente, para eles, o mundo exterior hostil só pensa em humilhar os muçulmanos árabes.
Por isso se reage com irritabilidade extrema a qualquer ofensa, pretensa ou verdadeira. Quão fácil é a instrumentalização duma tal sensibilidade não constitui segredo nenhum. Todo o colectivo de perdedores tende para estados de exaltação, que se deixam explorar politicamente. Por mais fútil ou risível que um motivo possa parecer, a tentação de extrair dele um capital político é irresistível para qualquer uma das partes estrategicamente interessadas.


Hans Magnus Enzensberger em Os Homens do terror, Ensaio sobre o perdedor radical

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