sexta-feira, 11 de julho de 2008

Os Faxes


Por causa dos fusos horários, que eram muitos, os faxes chegavam de madrugada. Entravam por baixo da porta empurrados pelo empregado nocturno do hotel, e eu ouvia-os a escorregarem pela frincha da porta, e imaginava que era ela a sussurar-me. Depois, adormecia novamente, e só quando me levantava de manhã os lia - muito vagarosamente - enquanto tomava o pequeno-almoço.


António Pinto Ribeiro em Melancolia

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Bilhetes


Nas duas primeiras vezes só me apercebi dessa presença quando, arrumando a roupa nas gavetas do quarto do hotel, uma tira de papel branco com a frase "volta depressa" caiu para o chão e, mais tarde, quando abri o estojo de viagem e vi um outro bilhetinho que dizia "não te eclipses". Depois, eu próprio, já prestes a fechar a mala, interrompia a operação e afastava-me para lhe dar tempo par lá pôr outro bilhete. Quando chegava ao destino, abria a mala e era a primeira coisa que procurava.

António Pinto Ribeiro em Melancolia

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Um Atraso Português


A qualidade do trabalho dos jornalistas está em vias de regressão e, com a precarização galopante da profissão, acontece o mesmo com o seu estatuto social. Assiste-se a uma autêntica e tremenda taylorização profissão.É preciso ver no que se transformaram as redacções, quer as dos jornais quer as das rádios e das televisões: reparamos nas celebridades que assinam os grandes editoriais ou que apresentam os telejornais, mas essas "estrelas" ocultam, de facto , centenas de jornalistas reduzidos à situação de meros auxiliares. "Aos poucos, o sector dos media foi ganho, por sua vez, pelo neoliberalismo, e a informação tende a ser cada vez mais uma subempreitada entregue a jornalistas precários prontos para todos os fretes que trabalham as matérias que lhes são fornecidas e fabricam uma informação por encomenda."

Ignacio Ramonet em A Tirania da Comunicação com citação de Patrick Champagne (1998/99)