quarta-feira, 25 de julho de 2012

Canção da Vida


As folhas da palmeira batem como se fosse chuva, mas nenhuma chuva cai, nem os meus olhos choram. É apenas o vento a agitar as folhas, largas, pesadas, e por dentro, quieto, o tempo de envelhecer. Assim, penso, o gato deitado na soleira da porta aquece-se ao sol que sobre ele se inclina. A porta abre-se para a morte, é o desfecho óbvio. Mas ele não sabe, tão pouco precisa. Se pudesse guardar um pouco de sol para as noites de frio, custariam menos a passar. Mas nem isso pode.

Jorge Roque em Canção da vida (Averno)

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